Manifestações pela anistia dividem a opinião pública
- Letícia Prado
- 12 de abr.
- 2 min de leitura
Protestos a favor do indulto expõem embate entre pressão política e memória democrática

No último final de semana, manifestações em diversas capitais do país reuniram apoiadores da anistia aos presos pela participação nos atos golpistas de 8 de janeiro. Organizados por movimentos de direita, os protestos pediram o fim das punições aos envolvidos, inclusive àqueles já condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar das mobilizações, a pressão popular não representa a opinião da maioria dos brasileiros. Segundo pesquisa divulgada no sábado (6) pela Queast, 56% da população se posiciona contra a anistia aos envolvidos nos ataques, enquanto apenas 34% são favoráveis. O levantamento reforça o debate sobre responsabilização e memória democrática no país.
O cientista político Arthur Leandro afirma que esses protestos ajudam a manter o nome de Jair Bolsonaro em destaque na cena política, mesmo estando fora do poder formal. Para ele, o bolsonarismo funciona como um movimento constante, com o ex-presidente liderando as ações que pressionam o Congresso e cobram posicionamentos de aliados. Embora a maioria da população rejeite a anistia, as manifestações tratam o tema como uma pauta política, e não apenas jurídica. Leandro compara o cenário atual com a anistia do fim da ditadura, mas destaca uma inversão de sentido: em 1985, o perdão buscava reparar injustiças; agora, tenta reabilitar quem atacou a democracia.
Maria Lioza Correa perdeu o marido, Aécio Flávio Correa, durante a ditadura militar. Ele foi perseguido por integrar o sindicato dos bancários, demitido e forçado a viver na clandestinidade. Aécio morreu em um acidente de avião que, segundo Maria, pode ter sido sabotado pelos militares — embora nenhuma investigação tenha sido feita. Quando o AI-5 foi instaurado, seu nome estava entre os primeiros alvos do regime.

Em 1985, Maria entrou com um processo para receber a indenização prevista pela anistia, mas até hoje convive com as dores e lembranças daquele período sombrio. Em relação às últimas manifestações, ela acredita que são lideradas por políticos da extrema direita, que buscam agir livremente para cometer crimes e permanecer impunes, “como na época do mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro”.
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